Apresentação

domingo, 28 de dezembro de 2014

Beijos, "Eu te amo", emoticons e palavrões caíram nos grampos da Lava Jato

Beijos, "Eu te amo", emoticons e palavrões caíram nos grampos da Lava Jato

As interceptações telefônicas e de mensagens de celular da Operação Lava Jato deixam evidente o grau de intimidade entre empresários e executivos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras e o doleiro Alberto Youssef. Os grampos da PF mostram mensagens de carinho, emoticons, felicitações entre os executivos e Youssef. Os diálogos inusitados que aparecem nas escutas mostram ainda xingamentos e palavrões, como os que marcaram uma discussão protagonizada pela contadora Meire Poza e representantes da empresa UTC engenharia.
Em mensagens trocadas em fevereiro deste ano, Alberto Youssef combina com José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da OAS, a entrega de R$ 66 mil frutos de pagamento de propina, em Porto Alegre. Segundo as investigações o funcionário era uma espécie de coordenador do pagamento de propina do doleiro. “E aí novidades de POA? (Porto Alegre)”, escreve Ricardo para Youssef. “Calma aí que vamos resolver. Te dou horário mais tarde”, responde o doleiro. “Ok. É que sou ansioso, mesmo! Kkkk”, complementa José Ricardo. “Kkkkk”, encerra Youssef.
Mensagens interceptadas no dia 6 de março deste ano, também com o doleiro e José Ricardo, mostra os dois coordenando a entrega de R$ 500 mil, também em Porto Alegre, para pessoas envolvidas no esquema. São mensagens carinhosas e até com um toque adolescente. “Te confirmo horario correto amanhã”, escreveu Youssef. “Obrigado, aí te passo os dados”, responde Ricardo. “Blz. Boa noite bjus”, diz Youssef. “Bjs”, escreve Ricardo.
Em 28 de fevereiro deste ano, uma conversa entre Youssef e o deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) teve até declaração de amor. Argôlo é apontado como homem que se beneficiou do esquema de Youssef e que recebeu presentes do doleiro como um helicóptero. “Você sabe que tenho um carinho por vc e é muito especial”, escreveu Argôlo a Youssef. “Eu idem”, disse o doleiro. “Queria ter falado isso ontem. Acabei não falando. Te amo”, apontou o deputado federal. “Eu amo você também. Muitoooooooooo<3”, respondeu Youssef, como revelou reportagem da revista Época.
Aliás, o grupo de Youssef tinha o hábito de se comunicar por meio de emoticons, como mostra uma outra troca de mensagens entre José Ricardo e o doleiro, quando eles tratam de uma entrega de propina em Canoas, no Rio Grande do Sul. “Bom dia. Tudo bem?”, escreveu Youssef. “Bom dia! Tudo bem”, responde Ricardo. “Ótimo”, fala Youssef. “E vc... Também?”, pergunta Ricardo. “Muito bem”, disse o doleiro. “\=D/”, responde o funcionário da OAS, com uma carinha sorridente.
Um outro diálogo mostra uma conversa entre Youssef e um interlocutor identificado como Careca, apontado pela PF como o homem que levou dinheiro a representantes do governo do Estado do Maranhão para a liberação de precatórios da Constran, no valor de R$ 113 milhões. “Bom dia, meu amigo, vou te dar uma novidade boa essa semana. Te prometo. Kkkkk. Estou tedevendo essa ”, escreveu Youssef ao interlocutor. “Kkkkkkk temos q acertar com o menino. Boa semana”, afirmou “Careca”.
Youssef também aparece em diálogo interceptado com o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, mandando mensagens de Feliz Ano Novo ao executivo, tido como o líder do pool de empresas que comandava um cartel na Petrobras. “Amigo Ricardo, que 2014 você e família realizem todos os desejos e projetos com muita saúde, paz, amor, felicidade, prosperidade. Bjo no coração do seu primo”, escreve Youssef. “Amigo, Primo. Queria lhe agradecer pela parceria e lealdade. Desejo para você e sua família o maior sucesso e muitas felicidades e muita saúde em 2014. Grande abraço. Ricardo”, responde. Youssef era chamado carinhosamente no grupo criminoso como “primo”.
Mas nem sempre o doleiro era tão carinhoso. Diálogo telefônico interceptado em 09 de dezembro de 2013, entre o ele e um homem não-identificado pela Polícia Federal, sobre o suposto pagamento da primeira parcela de um precatório entre a Constran e o governo do Maranhão, mostra um Youssef agitado, reclamando justamente da impaciência de Ricardo Pessoa. “Eu vou ligar para Ricardo pra ele largar mão de ser viado. Porra, oito e meia da noite, sexta feria, ligou pra mim: não entrou o dinheiro não”, afirmou Youssef para risada de seu interlocutor. “Porra”, completou Youssef. “Não avise, não, deixa euavisar primeiro. Se não ele vai encher meu saco”, disse o outro homem. “Então avise”.
Apesar disso, depois Youssef se acalma ao saber que provavelmente em quinze minutos daria tempo de avisar ao então presidente da UTC sobre a suposta transação. “Tá bom. Beijo”, despede-se o doleiro de seu interlocutor.
Em um outro momento de tensão do grupo de Youssef, a contadora do doleiro, Meire Poza, mandou um interlocutor da empresa UTC "tomar no c..." durante uma conversa em um shopping de São Paulo. A conversa foi interceptada pela Polícia Federal.
Apontada como responsável pela emissão de várias notas fiscais frias em favor de Youssef, a contadora irritou-se quando foi procurada pelo emissário, identificado somente como Edson. Ele queria tentar convencê-la a ser defendida pelos advogados da empreiteira. “A gente precisa conversar”, disse Edson. “Não. Eu não quero mais conversar, doutor. Eu vou meter os pés pelas mãos, se você insistir. Então vamos parar por aqui. Obrigada por você ter vindo, doutor. Boa noite. Você sabe ir embora, né?”, afirmou Meire Poza. “Sei”, respondeu Edson. “Então tá bom. Muito obrigada. Boa noite”, declarou Poza. “Desculpa, não era essa a intenção”, lamentou Edson.
“Não, não era. Antes que eu me esqueça, o senhor vai me fazer uma outra gentileza: o senhor provavelmente vai estar lá com os seus clientes, com a Camargo, com a UTC, Constran, com a OAS…?”, perguntou Meire. “Pois não, pois não, ok”, respondeu Edson. “Manda todo mundo ir tomar no cu”, bradou a ex-contadora de Youssef.

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